"Destino traçado"
O dia ia alto quando ela acordou. Percebeu que havia parado de chover. Ficou pensativa por um instante e saltou da cama. Caminhou até a cozinha, abriu a janela e pode ver sobre a copa das árvores o sol brilhando suavemente.
Chovera muito durante vários dias, a terra estava encharcada e ficou a imaginar como estaria as estradas. Naila morava sozinha numa velha cabana que sempre foi de sua família. Tinha por companhia um cão chamado Zack, e uma picape velha que ela usava pra ir as compras. Tomou seu café lentamente e preparou-se para sair. A manhã estava quase no fim, quando se dirigiu ao vilarejo. Naila sempre levava Zack, todos a conheciam, mas ela se sentia bem tendo ele por perto. Ia tão pensativa que quando se deu conta, o carro tinha caído em uma vala. Desceu e deu uma olhada, e por mais que tentasse o carro não se mexia. Tentou manter a calma, a estrada não era muito movimentada, mas quem sabe não daria sorte. As horas foram passando, Zack estava ficando impaciente e ela não sabia o que fazer. Maldisse o fato de não ter um telefone e morar tão distante. De repente ela viu um carro vindo em sua direção, abriu a porta e começou a acenar. Em questão de minutos alguém estava falando com ela. Estranhou o fato de não conhecê-lo, não parecia um homem da cidade. Ele por sua vez estranhou encontrar uma mulher naquela estrada erma com o carro atolado. Ele ofereceu ajuda e embora relutante, ela aceitou. Ele a levaria de volta pra casa e pediria que alguém rebocasse seu carro. Naila não se sentiu confortável ao aceitar sua carona, afinal de contas ele era um estranho, nem seu nome ela sabia. Tentando ser gentil ela disse seu nome e indicou a direção da sua casa. Ele apenas sacudiu a cabeça, não parecia querer conversar. Pensou em insistir em uma conversa, mas olhando pra ele de esguelha percebeu que era melhor não. Quando o carro parou em sua porta, ela pode vê a surpresa no rosto dele. Agradecendo ela desceu e ficou parada olhando enquanto ele fazia a volta e ia embora. Naila morava naquela cabana há muito tempo, ela era tudo que lhe restava. Quando seus pais se casaram e ainda eram muito pobres, moraram alí, ela se lembrava das histórias contadas por eles. Sua mãe tinha adoecido e vindo a falecer quando ela ainda era jovem, seu pai não aceitando muito a morte da esposa começou a beber e jogar, e quando já não tinha mais dinheiro, vendeu a fazenda, deixando apenas a velha cabana de fora. Ele falecera pouco tempo depois e Naila que não tinha mais nada, nem ninguém se mudara para a cabana passando a viver sozinha até o dia que ela encontrou Zack abandonado. Entrando em casa, ela continuou a pensar naquele homem de olhos verdes, ele parecia tão rude, e mesmo assim a tinha ajudado. Já escurecia quando Vicente chegou em casa. Ainda atordoado pelo acontecido, socou o carro. Depois de dez longos anos, ele a encontrava. Ele conheceu Naila quando o pai dele foi até a fazenda tratar a compra. Nenhum dos dois participou da conversa, mais enquanto aguardava ele a viu. Ela não passava de uma adolescente, e ele sentiu pena dela por estar naquela situação. Era contrário a compra da fazenda, ele achava que seu pai estava se aproveitando de um homem doente, mas também se não fosse ele, seria outra pessoa. Durante todo esse tempo a lembrança dela o assombrava. Quando soube que o pai dela havia falecido, sem que ninguém soubesse, procurou encontra-la. Mas parecia que de alguma forma ela tinha desaparecido. Tentando afastar os pensamentos, trabalhou duro, viajou muito e conseguiu fazer sua própria fortuna. Depois de dois anos longe da família, soube que era hora de voltar. O dia estava quente, a família se reunia na sala do advogado. Seus irmãos pareciam ansiosos pelo que iriam herdar. Vicente correu os olhos pela sala, sua mãe triste e cabisbaixa, seus irmãos, bem vestidos, verdadeiros homens de negócios. Olhou sua roupa, uma calça jeans surrada, e uma camisa onde se via faltava um botão. Ele não se incomodava, diferente dos seus irmãos, gostava de trabalhar. Além do que, ele já tinha o suficiente para viver. Ficou surpreso quando o advogado disse que ele herdaria a fazenda e tudo que nela existisse. Sentiu todos os olhares em si, era de todas as propriedades a mais bonita e mais lucrativa. Depois de tudo acertado, ele foi o primeiro a deixar a sala. Dirigiu por um longo tempo, não entendia o fato de seu pai ter lhe deixado a fazenda. Lembrou os olhares dos irmãos, e ao chegar em casa naquela tarde, apenas sua mãe o parabenizou, não parecia surpresa. Com o passar dos dias decidiu se mudar pra fazenda, queria estar a par de tudo e já era hora de se estabelecer. E foi assim que ele acabou encontrando Naila Pensativa e chateada com os acontecimentos do dia, Naila demorou a dormir e logo que o dia amanheceu já estava de pé. Ficou surpresa ao abrir a porta e vê sua caminhonete estacionada. A manhã não foi nada bem, colheu alguns legumes, recolheu os ovos,e limpou o carro. Estava irritada consigo mesma, não ouviu o barulho do carro, não sabia a quem agradecer nem onde encontrá-lo. Talvez o único jeito fosse ir até a oficina. O dia transcorreu com Naila resmungando Na manhã seguinte, antes do sol raiar, ela estava de pé. Colheu algumas hortaliças, arrumou os vasilhames de leite na caminhonete e seguiu em direção a vila. Desde que fora morar na cabana, ela cultivava legumes, hortaliças, investiu na criação de cabras e galinhas, era um meio de ganhar algum dinheiro pra complementar. Não havia luxo, havia apenas o suficiente e se sentia feliz. Desde nova ela era uma pessoa ponderada, não gostava de gastos excessivos, e se mantinha com a mesma simplicidade. Tivera muitos gastos em arrumar a casa, gastou quase tudo do pouco que seu pai lhe deixou, por isso era preciso arregaçar as mangas e trabalhar duro. No banco ao seu lado, Zack parecia satisfeito, vez por outra ele olhava pra ela, que retribuía com um afago. Uma hora depois ela chegava na vila. Por onde quer que se olhasse via-se uma planta enfeitando as casas, era um lugar realmente bonito, cercado de muito verde, e ela sempre achava que o nome Vale das Colinas, era muito apropriado. De repente ficou séria, lembrou do seu pai e sacudiu a cabeça para afastar a tristeza. Em tempos passados ele fora um dos muitos que cultivava aquela terra . Naila estacionou em frente a mercearia e logo Joaquim, o dono, veio retirar a mercadoria. Enquanto lhe oferecia um café ele quis saber se ela estava bem. Em poucas palavras contou-lhe o que houve. Passando pela oficina Naila esperava encontrar alguém que lhe desse alguma informação, mas só conseguiu saber que alguém tinha solicitado e pago pelo reboque do seu carro . Ficou decepcionada, mas não iria desistir, pensando assim resolveu passar na agência de telégrafo que também servia como livraria, gostava de ler, isso a mantinha conectada com o mundo, mesmo que tudo alí chegasse com atraso. Depois de comprar alguns jornais e livros antigos voltou a mercearia, pegou alguns mantimentos e retornou pra casa. Ficou todo o tempo calada, e se o estranho não fosse conhecido, e se não morasse nas redondezas? Alí não era um lugar muito frequentado, a vila ficava entre as montanhas, distante de qualquer cidade, era cercada por vinhas, e uns poucos criadores de cabras. Descarregou as compras, trocou de roupa e foi até o cercado dos animais, precisava de alguns reparos. Passou boa parte do dia trabalhando, e ficou satisfeita com o resultado, algumas cabras dariam crias e era preciso garantir que estariam em segurança. Depois de se lavar, sentou para comer alguma coisa, o dia ia acabando. Nos dias seguintes, Vicente acordava cedo e sempre dava uma volta pela fazenda, apesar de ter um administrador competente e fiel, ele gostava de olhar a plantação. Tratava todos bem, e queria que se sentissem satisfeitos com o trabalho. Durante vários dias ele se perguntou o que Naila poderia estar fazendo, não sabia nada da sua vida, se tinha alguém, como vivia, se tornaria a vê-la. Tinha passado poucas vezes pela vila, e normalmente não parava, para os moradores ele era um completo estranho. Tudo corria bem em sua vida profissional, seus negócios prosperava e em breve lançaria uma nova safra de vinhos. Havia sempre muito trabalho, reuniões que duravam horas, fazendo com que evitasse pensar em Naila. De vez em quando ele visitava a mãe, preferia ir sempre quando seus irmãos não estivessem presentes, havia uma certa inveja da parte deles, e ele preferia evitar qualquer desconforto. Os dias foram passando e Naila decidiu não pensar mais em quem a ajudou. O inverno estava chegando e era preciso se preocupar em manter os animais aquecidos e salvar a horta. Ela dependia disso, por isso durante vários dias ela colheu lenha, reforçou o cercado das cabras, colheu e secou algumas ervas. Era necessário garantir que nada lhe faltasse, pois no inverno era quase impossível ir a vila, as estradas ficavam praticamente intransitáveis. E assim o inverno chegou, os dias se tornaram mais curtos e as noites ficaram longas. Por muitas vezes acordava no meio da noite para manter a velha cabana aquecida, e durante os dias a preocupação era com os animais. Às vezes olhava para a estrada, sem nem saber o que esperava, mas ninguém aparecia. No final do inverno ela finalmente deu graças a Deus, perdera alguns animais, algumas plantas precisavam serem replantadas, mas houvera época pior. Na primeira semana da primavera ela decidiu que precisava ir a vila buscar algumas coisas. O sol brilhava timidamente e até Zak parecia feliz dando voltas e voltas ao redor da cabana. No caminho ela começou a ver pequenas flores aqui e acolá, era a nova estação deixando tudo mais bonito. Entrou no armazém e logo foi convidada para a festa da primavera. Todo ano era sempre a mesma coisa e quase nunca ela aparecia, mas prometeu que iria. As mulheres mais novas eram responsáveis pela arrumação, as mais velhas cuidavam da comida, enquanto os homens organizavam as bebidas e os assados. Depois de pegar as compras, passar pelo telégrafo voltou pra casa. Quando se recolheu pra dormir ficou pensando no convite, e decidiu que iria. Demorou a pegar no sono e pela primeira vez depois de muito tempo sonhou com seus pais. Acordou com Zak pulando em cima da cama. Depois do café, limpou e organizou o galinheiro. Fez uma parada para comer alguma coisa e aproveitou o resto do dia cuidando do jardim. Escurecia quando terminou, tomou um banho, preparou uma refeição leve e enquanto comia lembrou-se do sonho. Quanta saudade ela sentia dos seus pais, quantas lembranças da fazenda, de repente foi como se tudo estivesse alí, igual a antes. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e a trouxe de volta a realidade. O inverno foi rigoroso, mas Vicente tinha experiência e sobrevivera a ele. Quando o frio era intenso ele e seus homens espalhavam alguns tonéis entre a plantação, enchia com pequenas achas de madeira e colocava fogo para diminuir o frio . Assim as geadas não causaram grandes estragos. Era o começo da primavera e ele se preparava para visitar sua mãe. Tinha passado todo o inverno na fazenda, não que não gostasse, mas fazia um tempo que não a via e pensava convidá-la para ficar uns dias com ele. Saiu logo pela manhã, o dia estava bonito e podia ver os sinais da primavera por onde passava. Passando pelo vilarejo, sentiu vontade de parar, entrou no pequeno armazém e pediu um café. ara todos ali ele era um forasteiro e como não perguntaram, ele nada disse. Ouviu sem querer sobre a festa, que seria dali a duas semanas. Tomou seu café e agradecendo pegou a estrada novamente. Era um bom percurso da fazenda até a cidade e ele se viu perguntando onde Naila estaria, se ela também iria a festa, sentiu vontade de vê-la. Sua mãe ficou feliz com sua chegada, no primeiro dia eles simplesmente colocaram a conversa em dia, depois saíram para almoçar e jantar fora. Vicente também aproveitou para por em ordem alguns negócios. E antes que ele convidasse, ela se ofereceu para passar uns dias na fazenda, queria aproveitar mais a companhia dele. Ele ficou radiante, se afastar da cidade por um tempo faria bem a ela. Como era de se imaginar, houve descontentamento entre os irmãos, mas ela fincou pé e três dias depois partia com ele. Sua mãe apesar de ocupar uma posição mais elevada era uma mulher simples e de bom coração, foi muito bem recebida por todos na fazenda. Os dois tomavam o café da manhã juntos antes de Vicente sair para o trabalho, o resto do dia ela passava ajudando com a casa ou cuidando do jardim. Ao retornar do trabalho ela estava sempre lhe esperando na varanda. Mesmo sendo muito discreta, acabou notando um certo alvoroço entre os funcionários, todos comentavam sobre a festa no vilarejo e se o patrão também iria. Assim ela tomou a liberdade de questionar sobre o assunto. Vicente não era dado a comemorações, mas concordou que já era tempo de conhecer os moradores do local. E ficou combinado que iria com sua mãe. Dito isso, pediu que o encarregado fosse até o vilarejo e se interagisse do que poderia contribuir. Naila acordou com Zak arranhando a porta para sair. Ela o colocou pra fora, fez o café, trocou de roupa e foi ordenhar as cabras, ela usava o leite para consumo próprio e também para fazer iogurte e queijo, e já era hora de começar uma nova produção. Deu comida para as galinhas e recolheu os ovos. O dia transcorreu calmo. Continuou nos seus afazeres e nem se deu conta que já era tarde. O dia acabou com ela tomando uma caneca de chá e se perguntando o que usaria na festa. Não gastava com roupas, pois não era uma pessoa que saísse sempre. Deu de ombros, vestiria o que tinha... Os dias passaram e Naila esteve envolvida o tempo todo em cuidar da manutenção da cabana, havia algumas brechas que precisaram ser tapadas, e pra isso ela teve que recolher argila e musgo no riacho. Um dia antes da festa, decidiu ir até a vila levar sua contribuição. Assim que chegou notou toda a movimentação, homens passavam carregando madeiras, outros ajudavam com as barracas, o local do baile estava ficando pronto. Parou em frente a mercearia e entregou uma cesta com queijos. Não demorou, comprou alguns itens, deu uma volta para ver como estava os arranjos e prometeu chegar cedo para ajudar. De volta a cabana, apesar de não demostrar, estava ansiosa. Há tempos não ia a uma festividade, conhecia praticamente todos, mas vivia tempo demais sozinha e se sentia estranha as vezes. O dia amanheceu ensolarado, Vicente acordou se sentindo apreensivo, não era dado a aglomeração, mas prometera levar sua mãe que por sua vez estava animada. Ele notou sua empolgação na mesa do café, e ficou feliz em proporcionar momentos assim. Saíram logo após, ele como sempre, se vestia bem, mas com simplicidade. Sua mãe usava um vestido estampado com minúsculas flores e mangas largas, propício para um dia festivo de primavera. Naila sentiu o ar fresco da manhã, tomou seu café lentamente. Decidiu que nesse dia deixaria os animais presos. Abasteceu de água e comida, fechou bem o cercado, garantindo que nenhum fugisse ou fosse atacado enquanto estivesse fora. Enquanto se arrumava, sentiu um certo receio. Seria realmente a coisa certa a se fazer? Por um breve momento, pensou em desistir, mas continuou a se arrumar e gostou do resultado. Ela escolheu usar um vestido leve, de uma tonalidade azul, bem suave, combinando com uma sandália rasteira e confortável. Seus cabelos, de um preto intenso, ela prendeu em um coque, deixando alguns fios soltos. De acessórios, usou os brincos e colar de água marinha que havia sido da sua mãe. Como maquiagem, apenas um brilho nos lábios. Zak latiu e abanou o rabo em aprovação, e assim eles seguiram em direção a vila. Assim que parou o carro Vicente notou toda a agitação. Sabendo que ele deveria estar se sentindo deslocado, seu administrador tratou de lhe apresentar algumas pessoas. O dono da mercearia, o responsável pelo telégrafo, o pároco da única igreja existente, e por fim, o administrador da vila. Logo, todos sabiam que Vicente era morador e proprietário da fazenda e vinícola La Roche. O nome não fora trocado e algumas pessoas ainda se lembravam dos primeiros proprietários. Nada foi dito a esse respeito e Vicente se sentiu a vontade. Sua mãe logo estava com as mulheres e todos pareciam estar se divertindo. Naila estacionou a velha picape e de onde estava pode vê algumas crianças brincando.Desceu do carro e abriu a porta para Zack sair, ajeitou o vestido e caminhou em direção ao primeiro conhecido que viu. A esposa de Joaquim veio em seu auxílio conduzindo-a até a barraca de comidas. Todas estavam muito alegres, algumas traziam flores nos cabelos. Num instante Naila estava completamente a vontade. Mesas grandes de madeiras foram dispostas em volta da barraca para que todos se servissem, os homens preparavam e serviam os assados, enquanto outros cuidavam da bebida. Alguém ofereceu a Naila uma taça de vinho, que ela recebeu de bom grado. Logo depois do almoço, uma música começou a ser ouvida e algumas pessoas começaram a dançar. Todo o vilarejo estava ali. Vicente conversou com uns e outros, recebeu o agradecimento pelo vinho e se afastou um pouco para olhar o lugar. Gostava daquele estilo de vida, o campo, as pessoas, tudo demostrava amizade e uma boa convivência. Notou que muitas jovens lhe dirigia olhares, talvez esperando um convite para dançar, mas ele não estava ali para cortejar ninguém, apenas se sentiu lisonjeado, sem deixar transparecer. A tarde estava chegando e Naila decidiu que já tinha ficado o suficiente, despediu -se de algumas pessoas e saiu a procura de Zack. Vicente estava encostado no carro enquanto aguardava sua mãe que aceitara um convite para dançar. Olhando a sua volta ele viu a velha caminhonete. Seu rosto empalideceu, o coração acelerou e lhe faltou ar. Como esquecer aquele carro? Isso significava que Naila estava ali, mas estaria só? Sua mente fervilhava, muitas perguntas, nenhuma resposta. Caminhou em direção a velha picape, parou. O que faria se a visse com outro? Achou que estava sendo idiota e infantil, mas deu a volta e decidiu esperar. Naila vinha andando calmamente acompanhada de Zack quando ouviu alguém chamar seu nome. Ela virou e deu de cara com Vicente. De onde estava ele viu Naila se aproximar do carro, por um momento ele achou que estava sonhando. Aquela mulher era a mesma mulher por quem ele tinha se apaixonado dez anos atrás. Estava linda, em nada lembrava aquela que ele encontrou atolada na estrada. Não pensou, apenas chamou seu nome. Naila não soube o que dizer. Era ele em carne e osso e chamando seu nome. Ela quis retroceder, mas ele já lhe estendia a mão. Ela demorou um pouco para responder, ele notou seu embaraço, talvez estivesse sendo desagradável. Ainda segurando sua mão, ele perguntou como ela estava. Ela desnorteada, disse que bem, e tratou de agradecer pelo carro. Pega de surpresa, disse que queria pagar pelo que ele tinha feito, ele disse que não precisava. Aos poucos ela foi se refazendo e notou nele um certo nervosismo. Puxou a mão delicadamente e disse que precisava ir. Ao seu lado Zack parecia impaciente, mas Vicente não estava disposto a deixa-la ir sem saber se a veria de novo. Naila sentiu que seu coração batia diferente, aqueles olhos verdes penetrava sua alma, era como se ele a conhecesse. Uma voz feminina chamou por ele, e num segundo sua mãe estava ao seu lado. Ela olhou para Naila, olhou para Vicente e soube quem ela era. Deu um sorriso e Naila se sentiu mais confortável, elas haviam tomado vinho juntas na barraca, tinham trocado algumas palavras, só não imaginava que ela fosse a mãe dele. Magnólia era uma mulher perspicaz e conseguiu sentir o ar pesado entre os dois. Tocando delicadamente em Naila disse que ficaria feliz em vê-la de novo. Ela retribuiu a gentileza e se despediu. Vicente a seguiu até o carro, e numa tentativa desesperada ele perguntou se podia vê-la novamente. Sem pensar ela respondeu que sim. Pensamentos mil passava por sua mente, um sentimento novo tomava conta dela, estava tão transtornada quando o encontrou pela primeira vez que não se dera conta do seu magnetismo. Naila nunca havia se apaixonado, tivera poucos namorados, e optara por uma vida reclusa. Tomou um banho e enfiou-se debaixo das cobertas, se sentia febril. Vicente dirigiu sem olhar para os lados, enquanto sua mãe o observava atentamente. Ele parecia envolvido em um turbilhão de sentimentos e emoções. Sempre se orgulhara de ser um homem de atitude e há tempos decidiu que se a visse novamente não a deixaria escapar, não sem antes tentar. Passou a noite em claro imaginando como a veria novamente e pela manhã, ainda não sabia exatamente o que fazer. Sua mãe, vendo seu estado, achou melhor deixar que ele tomasse suas decisões, garantindo apenas que estaria por perto caso quisesse conversar. Carinhosamente ele agradeceu e saiu para o trabalho. Uma coisa ele sabia, ela não tinha ninguém ou não teria concordado em vê-lo. Com esse pensamento o dia transcorreu tranquilamente. Naila dormiu mal, e as primeiras horas do dia já estava de pé. Depois de um café rápido, soltou os animais para pastar, e decidiu ir até o riacho pescar. Precisava clarear as ideias, ainda não entendia porque Vicente queria vê-la outra vez e como ela concordou tão rapidamente. Enquanto Zack pastoreava as cabras, ela se concentrava na pescaria. Voltaram pra casa pouco antes do almoço. Na sua imaginação Vicente ia aparecer de repente, mas os dias foram passando e isso não aconteceu. Por fim, a ansiedade desapareceu e ela começou a duvidar que ele tivesse falado sério sobre lhe ver. Vicente teve dias de muito trabalho, compromissos que não podiam ser adiados, dificultando assim seu encontro com Naila. Passado alguns dias ele contou a sua mãe como a tinha encontrado depois de anos, e vendo tanta sinceridade, ela o incentivou a procurá-la. Era domingo e Naila decidiu fazer um piquenique. Preparou uma cesta com pão, frutas e queijo, acrescentou um suco, e acompanhada de Zack seguiu em direção ao riacho. Levava um livro e pretendia apenas relaxar. Vicente decidiu que era o dia, precisava ir até Naila, e logo após o café ele saiu. Ao passar pelo jardim, colheu algumas flores, talvez ela gostasse. Parou o carro na entrada da casa dela e tudo parecia silencioso. Desceu do carro e bateu na porta, ninguém respondeu. Deu a volta na casa e nada, foi quando ouviu o latido de Zack. Seguindo o som, ele estancou ao vê-la sentada sob a copa da árvore enquanto folheava um livro. Naila estendeu a toalha, e se recostou na árvore. Ela amava aquele lugar, se sentia privilegiada, pois o riacho passava atrás da cabana e como era primavera, pequenas flores deixava tudo ainda mais bonito. Zack latiu e chegou mais pra perto, ela acompanhou para ver o motivo e Vicente estava ali e se aproximou para cumprimenta-la. Ele entregou as flores, e quis saber como ela estava, meio desajeitados eles trocaram algumas palavras até que ela o convidou a sentar. Ele elogiou o lugar, ela agradeceu. Disfarçadamente ela o analisava, mesmo parecendo rude era gentil. Aos poucos foi se sentindo a vontade ao seu lado. Ele por sua vez lado não sabia como começar, mas achou que ser franco e direto era a melhor opção. Continuaram trocando algumas palavras e em dado momento ele disse que a amava. Ela achou que tinha ouvido errado e continuou olhando pra ele, ele repetiu, ela quis falar, ele delicadamente a impediu. Com os olhos fixos nela, ele contou sua história. Contou como a conheceu e que durante anos sua imagem não lhe saía da cabeça, contou que buscou por ela, e por fim contou que herdara a fazenda. Falou do susto que foi vê-la naquele dia na estrada, e da alegria em reencontra-la na festa. Falou sem parar, abriu seu coração,e quando terminou notou que os olhos dela estavam cheios de lágrimas. Naila ouviu tudo sem pestanejar, nunca poderia supor que alguém a amasse assim, que ele havia buscado por ela. Num misto de alegria e tristeza seus olhos se encheram d’água. Reviu nas suas lembranças a fazenda, os momentos de felicidade que passara ali, sentiu uma ternura imensa por aquele homem, que sentado ao seu lado, desnudava seus sentimentos, sem ao menos saber o que ela sentia. Quando Vicente terminou, sentiu- se leve, não importava se ela não o quisesse, ele fez o que achou certo e isso lhe dava paz. Dez longos anos havia se passado, e seu amor por ela nunca diminuira. Num ímpeto ele se ajoelhou na sua frente, e segurando suas mãos com firmeza, fez a pergunta que lhe sufocava o peito. Naila achou que estava sonhando, ele realmente a pediu em casamento? Meia atordoada pelos acontecimentos, ela tentou se desvencilhar. Não conseguiu, olhou aqueles olhos verdes e profundos e soube naquele instante que ele era o homem da sua vida. Abraçaram-se em silêncio, pequenos afagos entre eles mostrava que o destino unira para sempre aquelas duas pessoas. Um longo beijo selou aquele amor...
Maureen
Enviado por Maureen em 12/11/2024
Alterado em 14/11/2024 |