O Milagre Do Amor
Ana acordou sentindo o vazio dos dias sempre tão comuns. Ao abrir a janela se deparou com um colorido novo. A primavera chegava trazendo uma roupagem nova e o gorjear dos pássaros alegrava o dia. A natureza se vestia do novo, mas ela continuava ali numa vida sem sentido onde um dia era sempre igual ao outro. Na sua rotina preparou o café e esperou pelo pai para fazerem a refeição matinal juntos. Saiu para o trabalho apressada, mas mesmo assim cumprimentava quem encontrava pelo caminho. Sempre ia ao trabalho de bicicleta aproveitando pra se exercitar e curtir aquele caminho tranquilo. Neste dia como estava atrasada, tentou ser mais veloz pois seu chefe era intolerante e não admitia atrasos. Distraída, não viu o carro que surgiu nem sabia de onde. Sua última lembrança foi seu corpo voando da bicicleta. Acordou sem saber onde estava, quis levantar, não conseguiu. O corpo pesava. Escutou alguém dizer que ficasse quieta, que estava tudo bem. Como podia estar tudo bem? Olhou pro lado e seu pai estava ao seu lado, rosto afogueado e parecia nervoso, mas tentou acalmá-la. O médico entrou no quarto, sorriu ao ver que ela estava acordada, puxou seu pai para o canto e começaram a conversar. Meio zonza, Ana não conseguia entender, mas percebia pela expressão de seu pai que o caso era sério. O médico se aproximou e disse que ela precisava permanecer no hospital para fazer alguns exames e para que pudessem avaliar melhor o seu caso. Ela estremeceu, não queria ficar ali, quis reclamar, mas olhando para seu pai ficou quieta. O médico saiu e Ana logo adormeceu novamente. Quando acordou já havia anoitecido. Começou a lembrar vagamente do acidente. Lembrou que ao virar a esquina foi jogada da bicicleta, tentava mexer as pernas, mas elas continuavam imóveis. Seu pai passou a noite ao seu lado. O dia amanheceu e logo vieram buscá-la para fazer os exames. Quando ela voltou para o quarto notou que havia um lindo buquê de rosas brancas. Perguntou quem mandara as flores e disseram que estava sem cartão. Ela ficou intrigada, mas pensou que podia ser os colegas de trabalho. Ficou feliz por tê-las recebido. Já escurecia quando o médico chegou trazendo os resultados do exame. Explicou que ela havia fraturado uma vértebra e precisaria passar por uma cirurgia e depois por muita fisioterapia e força de vontade pra que pudesse voltar a andar. Ela permaneceu muda e tentava não chorar para não deixar o pai mais aflito e triste. Os vizinhos, amigos e colegas de trabalho iam visitá-la e tentavam animá-la. No dia da cirurgia a enfermeira veio buscá-la logo cedo. O procedimento foi demorado e difícil, mas correu tudo bem. Depois do tempo de recuperação no CTI, voltou ao quarto e notou novos buquês de rosas brancas sem cartão e ficou intrigada. Quem estaria mandando as rosas? Dias depois voltou pra casa e os amigos prepararam uma recepção pra ela. Um quarto foi adaptado no andar de baixo. E lá estava o buquê de rosas brancas. Ela não tinha namorado e nem sabia que tinha um admirador. Ficou intrigada e curiosa pra saber quem estava mandando as rosas. Fabrício era um homem sério. Desde cedo trabalhava muito e apesar de já ter idade pra ter sua própria família ainda morava com os pais. Era engenheiro civil e estava sempre de um lado pro outro acompanhando e fiscalizando suas obras. Tinha uma boa clientela a quem atendia com competência e profissionalismo. Seu escritório já era conhecido e respeitado. Naquele dia ele estava apressado, atrasado para visitar um cliente. Ao virar a esquina não conseguiu parar e evitar o choque com a bicicleta de Ana. O impacto fez com que ele batesse a cabeça e ela fosse arremessada para o outro lado. Ainda atordoado saiu do carro e prestou pronto socorro à moça acidentada, chamando socorro. Ele teve apenas um ferimento leve na testa, mas buscando informação soube que o caso de Ana era bem mais grave. Ficou se sentindo culpado e desnorteado embora ela tenha surgido do nada e se chocado com ele. Não teve coragem de ir até o quarto dela. Avisou que pagaria todas as despesas. Os dias passavam lentos, parece que se arrastavam, e Fabrício sentindo o peso da culpa por saber que Ana estava impossibilitada de andar, mal conseguia se concentrar no trabalho. Precisava saber se ela estava precisando de alguma coisa. Afinal ela estava impossibilitada de trabalhar por causa do acidente. Sabia que ela morava só com seu pai e que ele era aposentado. Poderiam estar passando por dificuldades pra pagar a fisioterapia. Decidiu que iria visitá-la. Ele chegou com um buquê de rosas brancas e se apresentou. Ana estava sentada. Quando olhou pra ele um misto de tristeza e emoção tomaram conta dela. Ele era um homem tão bonito e distinto e ela estava numa situação tão delicada. Chorou ao receber as rosas. Entendeu que ele mandara todas as outras. Mas por quê? Qual era a intenção? Ele disse: —Eu sou Fabrício. Fui eu que bati em sua bicicleta no dia do acidente. Eu sinto tanto por isso. Queria que o tempo voltasse e que tudo não passasse de um pesadelo. —É, mas o tempo não volta. O acidente foi uma realidade. Eu também fui culpada. Estava distraída. Se tivesse atenta, talvez pudesse ter evitado. —Você já começou as sessões de fisioterapia? —Não. Vou começar na próxima semana, quando o médico liberar. —Tenho uma ótima fisioterapeuta pra indicar. Faço questão de pagar tudo. —Nós podemos pagar. Você já fez muito arcando com as desepsas do hospital. —Eu quero pagar. Afinal fui eu que me envolvi no acidente com você. Aceite por favor, vai me fazer bem. Eles conversaram. Conheceram-se. Ao sair ele afagou seus cabelos e beijou sua testa. Depois que ele se foi, ela começou a chorar. Sentiu um aperto em seu peito. Ele era tão bonito, simpático, charmoso. E ela ali naquela situação. Sentiu-se deprimida. Queria tê-lo conhecido em outra situação. Ela começou a fisioterapia, mas estava desanimada. Sentia pena de si mesma e se achava a maior das vítimas. Pensava que tudo dava errado pra ela. Até aquele príncipe só apareceu para se envolver num acidente e deixá-la daquela forma. E agora ela se sentia apaixonada, mas não tinha nada para oferecer a um homem como Fabrício. Ele sempre ia visitá-la, lhe trazia as rosas e conversava muito. Mas ela não se animava. Fabrício se sentia encantando com Ana. Tentava se acalmar e definir se era um sentimento verdadeiro ou se estava confundindo culpa e pena com amor. Mas nunca havia sentido nada assim. Apesar dela estar passando por uma fase ruim, era uma pessoa incrível. Era linda e doce. Tinha algo nela que o atraía e ele não deixava de pensar nela nem um minuto. Decidido, ele passou pela floricultura e comprou um buquê de rosas vermelhas. Chegou na casa de Ana. Ela estava sentada na sala. Ele chegou se abaixou e lhe entregou aos rosas. Segurou suas mãos e disse: —Você quer namorar comigo? — ela arregalou os olhos —O que você disse? — começou a chorar —Por que chora, meu amor? —O que eu tenho pra te oferecer? Você é um homem de sucesso, lindo, com uma vida inteira pela frente. —E você também é linda e tem uma vida inteira pela frente. Eu me apaixonei por você e não vou admitir que você se entregue. Se for preciso vou vir todos os dias juntos com a fisioterapeuta e insistir até que você decida reagir e retomar sua vida. Eu não acredito que me apaixonei por uma mulher fraca. Não, eu me apaixonei por uma guerreira, que luta, que acredita e tenta. A derrota é para os fracos. Diga sim pra mim e vamos juntos, com muito amor seguir nossas vidas. Eles se abraçaram. No dia seguinte ela acordou com ânimo novo. Contou ao seu pai que sonhou com sua mãe e no sonho ela lhe dizia que este acidente não foi uma maldição e sim uma benção. Que sua vida começava agora. Que muito em breve uma grande mudança aconteceria e tudo ficaria bem. Seu pai a abraçou e a abençoou. Fabrício estava presente na vida dela e a cada progresso vibrava e comemorava deixando-a feliz e mais motivada a se esforçar. Depois de quase um ano ela deu os primeiros passos. E se sentiu vitoriosa e feliz como se estivesse aprendendo a andar novamente. Algum tempo depois eles saíram juntos, abraçados. Ela andando e melhorando cada dia. Não se separaram mais. A presença dele deu a ela a força que precisava para que um milagre se operasse em sua vida. O milagre do amor.
Maureen e Nádia Gonçalves
Enviado por Maureen em 18/11/2024
Alterado em 18/11/2024 |