Maureen

A flor da pele

Textos

"Jardim da esperança"
    

Muriel acordou com o som das bombas, assustado, correu para se proteger.
Aquela guerra já durava anos e aos poucos fora minando sua família, restando apenas ele.
Por muito pouco não lhe roubou a sanidade, e contava com isso para sobreviver.
Aquele lugar que tanto amava,
tirara-lhe tudo,  pais, irmãos e amigos.
Jogou algumas peças de roupa na mochila e se preparou para deixar o prédio.
Caminhava encoberto pela poeira e fumaça em meio aos escombros, estava decidido a sair daquele inferno.
Ele estava a dois dias de caminhada do porto , tinha esperança  de chegar até lá e encontrar algum barco que pudesse levá-lo pra longe.
A noite chegou e o frio abateu-se sobre ele, tinha fome e sede,  mas vencido pelo cansaço optou por dormir e continuar pela manhã.
Ao longe, as poucas luzes que restara na cidade cintilavam sob a noite escura.

Ainda não tinha amanhecido quando ele acordou sobressaltado,  
tinha ouvindo vozes.
De onde estava tinha uma boa visão da estrada, e viu algumas pessoas indo na mesma direção.
Havia mulheres e crianças, todos fugiam daquele horror.
Por um momento pensou em se juntar a eles, mas decidiu que não, quanto maior o grupo mais chamaria  a atenção, havia patrulheiros em todo canto recrutando quem pudesse lutar.
Sozinho ele tinha mais chance, seguiria sempre as margens, se ocultando entre os arbustos.
Alimentou-se com um pedaço de pão, tomou um gole d'água e continuou sua jornada.
Ao final daquele dia,  sentiu que a distância entre ele e a cidade tinha aumentado, estava mais próximo do porto.
Parara pouquíssimas vezes,  apenas o suficiente para beber água e esfregar os pés.
Estava determinado a continuar.
A lua ainda lhe permitia vê o caminho, e só bem mais tarde parou para dormir um pouco.

Empreendeu sua  caminhada assim que clareou, o terreno era íngreme e pedregoso, escolheu um trecho mais isolado, subia, descia, chegando a cair algumas vezes.
No meio do dia encontrou água fresca, e parou para se alimentar.
O pão que levava estava acabando, havia racionado o quanto pôde, e dali pra frente precisava manter o ritmo.
Mesmo distante ainda ouvia o som das bombas, sentia seus olhos marejarem, o coração apertava de dor quando lembrava da família, mas ele não era um covarde, não havia mais ninguém, e estava lutando para sobreviver.
Abastecido de água pós-se de pé novamente.
Enquanto houvesse claridade iria continuar, pelo seus cálculos chegaria ao Porto no dia seguinte.
A lua estava alta no céu quando decidiu parar, soprava um vento frio, mas não podia fazer sequer um fogo pra se aquecer, aconchegou -se entre as pedras, se cobriu com alguns galhos e adormeceu.

Apesar do cansaço e desconforto, conseguiu descansar, e logo pela manhã  começou a percorrer o último trecho do caminho.
Seu corpo já dava sinais de fraqueza, o esforço físico tinha sido grande, e foi com grande alívio que sentiu a brisa do mar.
Já passava do meio dia quando avistou o porto.
Não era hora de parar, mas parou e agradeceu a Deus.
Muriel percorreu o pequeno trecho com confiança, não sabia ao certo a quem se dirigir, vários barcos estavam atracados, e havia uma multidão tentando cruzar o portão .
Encostou na grade e esperou.
Ficou alí, derrepente o portão se abriu,  e alguém que vinha correndo simplesmente o jogou pra dentro.
Quis se levantar, mas não conseguia, foi quando uma mão lhe puxou.
Completamente atordoado, foi levado ao barco e colocado sobre uma maca.
Na confusão havia se machucado.
Foi medicado e quando lhe perguntaram o que fazia alí, contou que fugia da guerra, que não tinha dinheiro, mas pagaria com seu trabalho se lhe ajudassem.
Gentilmente disseram que não seria nescessário, era um barco de resgate  e salvamento
Muriel permaneceu recebendo atendimento médico por vários dias
Quando se sentiu recuperado, dirigiu-se até o convés, queria olhar o mar, o céu, queria agradecer aquele infortúnio que o havia colocado no barco.
Seu destino ainda era incerto,  mas isso nunca tinha sido medo pra buscar certezas
Lançou um último olhar onde acreditava estar sua cidade, era um adeus , um triste adeus.
Algumas pessoas conversavam entre si, e ao vê-lo perguntaram o que ele levava consigo.
Muriel pensou por um momento, e disse que levava um jardim.
Alguns olharam para ele espantados, e ele explicou que carregava consigo um jardim cheio de esperança.






Maureen
Enviado por Maureen em 14/02/2025
Alterado em 14/02/2025


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